ALERTA TOTAL

O planeta em estado febril

Ondas de calor, secas prolongadas, chuvas torrenciais, furacões devastadores. Em meio a alterações climáticas causadas pelo já famoso aquecimento global, a previsão é de que a sua saúde estará sujeita a mais instabilidades

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Por Cida de Oliveira
Revista Saúde - 04/2008

Dois anos antes de o furacão Katrina devastar a cidade de Nova Orleans, no sul dos Estados Unidos, fortíssimas ondas de calor na Europa provocaram complicações cardiovasculares e respiratórias em grande parte da população, matando mais de 30 mil pessoas. Esses eventos, para citar apenas duas das maiores calamidades dos últimos tempos, vieram colocar mais lenha na fogueira das previsões sobre a saúde do planeta e de seus habitantes no médio e no longo prazo.

Para muitos especialistas, o desmatamento e o despejo diário de toneladas de gás carbônico na atmosfera estão por trás de catástrofes assim. Os mais céticos, no entanto, alegam que ainda é cedo para atribuí-las cem por cento à ação do homem.

O consenso é que furacões dependem de águas oceânicas mais quentes. Ora, nos últimos 35 anos, a temperatura do globo subiu 0,5 °C e dobrou o número de furacões que castigam a Terra. Coincidência ou não, o fato é que a saúde humana também sofre — e como! — quando o termômetro vai às alturas. "Aumentam os casos de derrame e proliferam os insetos transmissores de dengue, febre amarela, malária, cólera e leishmaniose", enumera Ulisses Confalonieri, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro.

Uma questão que põe cientistas em lados opostos é o elo entre o aquecimento global e o aumento dos rombos na camada de ozônio, aquela que protege a Terra dos efeitos nocivos dos raios ultravioleta. Maria Luisa Höfling-Lima, professora de oftalmologia da Unifesp, ressalta que, no caso da nossa saúde, ainda não há estudos que indiquem relação de causa e efeito desses problemas ambientais com os que acometem os olhos. "Mas evidências apontam para um maior número de casos de catarata e degeneração na retina por causa da exposição crescente à luz azul e à radiação ultravioleta", diz.

Já a pele indiscutivelmente sofre com as conseqüências de uma esburacada camada de ozônio. Quanto maior a incidência de raios UV, maior a vulnerabilidade a lesões que podem levar ao câncer. Entre 1999 e 2005, a Sociedade Brasileira de Dermatologia examinou 205 869 pessoas em todo o Brasil e diagnosticou 17 980 casos de vários tipos de tumor. Uma pena, porque muitos deles poderiam ser evitados com uma única providência: a exposição ao sol com proteção. Infelizmente, mais da metade desses pacientes admitiu que não tomava esse cuidado tão simples. Não à toa, a estimativa do Instituto Nacional de Câncer, o Inca, é que este ano haverá no Brasil 115 010 novos casos do tipo não-melanoma e 5 920 de sua versão mais grave, o melanoma.








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